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domingo, 29 de março de 2015

O nome dos estádios


No futebol contemporâneo, após as grandes marcas comerciais terem disputado o espaço publicitário nas camisolas dos principais clubes, a luta estendeu-se ao negócio dos “naming rights” (direitos de nome em tradução livre para português) dos estádios, fenómeno muito frequente nos Estados Unidos com os recintos de basebol, basquetebol e futebol americano.
A Alemanha é um dos países onde este negócio mais proliferou, pois das 18 equipas da Bundesliga, apenas, quatro não têm o nome dos seus estádios associados a uma marca comercial. Na Inglaterra e no Brasil, embora de forma mais tímida, alguns clubes, também, já recorrem a esta forma de patrocínio que na Alemanha rende, em média, por época a cada clube 2,5 a 2,7 milhões de euros.
No entanto, a experiencia tem mostrado que é difícil convencer os adeptos a abandonar a designação tradicional dos estádios, que muitas vezes têm o nome de personalidades carismáticas ligadas aos clubes, em detrimento de um nome que envolva uma marca comercial.
Tradicionalmente os estádios têm o nome dos locais, cidades ou bairros, onde estão implantados ou de figuras carismáticas dos clubes, habitualmente presidentes ou jogadores.
Em Coimbra existem três estádios, Estádio Cidade de Coimbra (a que a Académica por motivos de “sponsorização” associou o nome Efapel), Estádio Universitário e, mais recentemente, o Estádio Municipal Sérgio Conceição localizado em Taveiro.
Estou certo que muitos se interrogam sobre as razões que terão levado o Executivo Municipal da época a atribuir o nome de Sérgio Conceição ao Municipal de Taveiro.
Sérgio Conceição nasceu no concelho de Coimbra e fez parte da sua formação na Académica, clube que representou, apenas nas camadas jovens, entre 1986-87 e 1990-91. Com 17 anos (1991) transferiu-se para o F.C. Porto e até terminar a sua carreira, dezoito anos mais tarde, nunca mais voltou a vestir a camisola da Académica. Recentemente, final da época de 2012-13 e época de 2013-14, foi treinador da Académica.
Em contrapartida, se revisitarmos a história do futebol da Académica encontramos muitas personalidades (dirigentes, treinadores, jogadores) que foram figuras de referência na instituição e contribuíram para o seu prestígio e engrandecimento.
Dos jogadores, permito-me destacar sete, cujo curriculum, como cidadãos e futebolistas da Académica, deveria ter sido, obrigatoriamente, ponderado e valorizado pelo então Presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
António Bentes - 15 épocas consecutivas na Académica (retirou-se em 1959), 328 jogos,167 golos (melhor marcador de sempre da história Académica), 5 vezes internacional, 3 pela Seleção A. Professor Primário. Faleceu em 6 de Fevereiro de 2003 com 75 anos.
Mário Wilson - 12 épocas consecutivas (retirou-se em 1963), 281 jogos,17 golos,207 vezes capitão de equipa, 2 vezes internacional pela Seleção B. Treinador da Académica durante 7 épocas, tendo orientado a equipa em 237 jogos.
Mário Torres - 16 épocas consecutivas (retirou-se em 1966), 373 jogos, 32 golos,102 vezes capitão de equipa, 7 vezes internacional, 5 pela Seleção A. Treinador uma época. Médico Obstetra.
João Maló - 11 épocas consecutivas (retirou-se em 1969), 150 jogos, 6 vezes internacional, uma pela Seleção B. Treinador uma época. Médico, Professor Universitário.
Augusto Rocha - 15 épocas consecutivas (retirou-se em 1971), 373 jogos, 59 golos,120 vezes capitão de equipa,19 vezes internacional, 7 pela Seleção A.
Vítor Campos - 13 épocas consecutivas (retirou-se em 1976), 345 jogos, 33 golos, 2 vezes internacional, uma pela Seleção A. Médico Anestesista.
Vasco Gervásio - 17 épocas consecutivas (retirou-se em 1979), 430 jogos, 50 golos, 284 vezes capitão de equipa, 7 vezes internacional, uma pela seleção B. Treinador uma época. Seis anos Vice-Presidente da Direção. Licenciado em Direito. Faleceu em 3 de Julho de 2009.

A atribuição do nome de Sérgio Conceição ao Municipal de Taveiro não terá sido, seguramente, pelo contributo desportivo que este deu à Académica, já que a representou, apenas, nos escalões de formação ou por serviços relevantes prestados à cidade, dos quais ninguém tem conhecimento.
Então o que se terá passado? Rebobinemos o filme da história.
Dia 17 de Novembro de 2002, o Estádio Sérgio Conceição, completamente cheio, é inaugurado com o jogo Académica-Vitoria de Setúbal, correspondente à 11ª jornada da Super-Liga da época de 2002-03.
Nove anos mais tarde, 23 de Abril de 2012, pode ler-se no “Mais Futebol” a seguinte declaração de Sérgio Conceição: “Quando foi inaugurado o estádio com o meu nome, em Taveiro a 10 km de Coimbra, que não é meu, tem apenas o meu nome, comprei toda a bilheteira. Foram 60.000 euros que ofereci à Académica.”
Terá sido esta a razão? Terá sido uma forma pioneira de “naming rights” que justificou a atribuição do nome do Estádio?
Se foi, terão sido ponderados outros nomes, como o de Jorge Humberto ex-futebolista da Académica?
Jorge Humberto, hoje médico pediatra, foi um poderoso avançado que jogou 6 épocas na Académica (retirou-se em 1966), fez 100 jogos, marcou 34 golos, foi uma vez internacional pela Seleção B e uma época treinador. No verão de 1961 protagonizou a primeira grande transferência de um futebolista português para o estrangeiro. Em consequência da transferência para o Inter de Milão ofereceu à Académica, sem que a isso fosse obrigado ou algo recebesse em troca, 1000  contos,valor que actualizado à inflação seria, hoje, cerca de 450.000 euros.
Quaisquer destes ex-jogadores ou, então, dirigentes históricos como João Moreno, Jorge Anjinho ou Paulo Cardoso, não deveriam ter sido homenageados atribuindo o seu nome ao Estádio Municipal de Taveiro?
A cidade, através da sua Assembleia Municipal, ainda, está a tempo de reparar este erro!

  




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