A demissão da Direção foi a
primeira consequência da despromoção da Académica para a segunda liga.
É verdade que o ambiente estava,
desde há muito, irrespirável, é verdade que a 24 de Outubro foi anunciado a
antecipação das eleições para o final da época, é verdade que as divergências
no seio da Direção eram conhecidas, é verdade que o Presidente demissionário
estava, cada vez mais, isolado, mas não é menos verdade que foram os resultados
desportivos que acabaram por desferir a “machadada” final.
A
história desta época desportiva é incompreensível e prova o desnorte que se
instalou no seio da direção. Os sucessivos erros cometidos ilustram o
amadorismo, a displicência e, mesmo, a irresponsabilidade que caracterizaram a
gestão desportiva da Académica.Desde a estruturação inicial do plantel
(fraco e limitado), à manutenção até à quinta jornada de um treinador que não
obteve um único ponto substituído por outro sem experiencia nem qualidade, até
à recusa em reforçar criteriosamente a equipa no mercado de Janeiro, um pouco
de tudo se registou nesta cronologia que tinha todos os condimentos para
terminar em tragédia.
Infelizmente, também, falhou o que em muitas
das últimas 14 épocas permitiu a manutenção na 1ª Liga: não houve duas equipas
piores classificadas nem ocorreu nenhum “milagre”!
Independentemente do juízo de
valor que cada um possa fazer sobre os mandatos do Presidente demissionário impõe-se, em nome da
verdade factual, reconhecer o que de positivo foi alcançado, nomeadamente 14 anos de permanência sucessiva na 1ª Liga, sequência,
apenas, superada pela de 1949 a 1972, conquista, 73 anos
depois, da Taça de Portugal, participação meritória, após um interregno de 41
anos, nas competições europeias e a construção da Academia Briosa XXI.
Em contrapartida, reconfirmou-se que a sucessiva renovação dos mandatos acaba por conduzir a
lideranças autoritárias, discricionárias e pouco clarividentes, ocorrendo, não
raras vezes, um processo de enquistamento progressivo que as torna,
progressivamente, mais displicentes, ineficazes e, tendencialmente,
autistas.
São disto exemplo o
distanciamento em relação aos sócios e adeptos, a incapacidade para fazer
pontes com a cidade, a academia e a região, a impotência para promover a
Instituição e potenciar os seus êxitos, o diálogo difícil ou, mesmo, inexistente
com outras instituições e agentes desportivos, a ausência de uma política
solidamente estruturada para a formação e prospeção, a falta de motivação para
implementar uma gestão desportiva ambiciosa e sustentável ou a falta de vontade
para redimensionar e requalificar a estrutura sobredimensionada do OAF.
Chegou a hora de mudar, mas
assumir os destinos da Instituição nesta fase é uma tarefa ciclópica e não é
para todos. Não basta ser uma personalidade afável e um academista dedicado e voluntarioso.
É indispensável um projecto realista, consistente e sustentável protagonizado
por alguém experiente, credível, determinado e com capacidade de “net working”
para promover, dinamizar e potenciar a marca Académica.
Só assim será possível
materializar, com sucesso, o pensamento subjacente às palavras de Agustina
Bessa Luís quando escreveu “o que resta é
sempre o princípio feliz de alguma coisa”.
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