No futebol contemporâneo, após as grandes marcas
comerciais terem disputado o espaço publicitário nas camisolas dos principais
clubes, a luta estendeu-se ao negócio dos “naming rights” (direitos de nome em
tradução livre para português) dos estádios, fenómeno muito frequente nos
Estados Unidos com os recintos de basebol, basquetebol e futebol americano.
A Alemanha é um dos países onde este negócio
mais proliferou, pois das 18 equipas da Bundesliga, apenas, quatro não têm o
nome dos seus estádios associados a uma marca comercial. Na Inglaterra e no
Brasil, embora de forma mais tímida, alguns clubes, também, já recorrem a esta
forma de patrocínio que na Alemanha rende, em média, por época a cada clube 2,5
a 2,7 milhões de euros.
No entanto, a experiencia tem mostrado que é
difícil convencer os adeptos a abandonar a designação tradicional dos estádios,
que muitas vezes têm o nome de personalidades carismáticas ligadas aos clubes,
em detrimento de um nome que envolva uma marca comercial.
Tradicionalmente os estádios têm o nome dos
locais, cidades ou bairros, onde estão implantados ou de figuras carismáticas dos clubes,
habitualmente presidentes ou jogadores.
Em Coimbra existem três estádios, Estádio
Cidade de Coimbra (a que a Académica por motivos de “sponsorização” associou o
nome Efapel), Estádio Universitário e, mais recentemente, o Estádio Municipal
Sérgio Conceição localizado em Taveiro.
Estou certo que muitos se interrogam sobre as
razões que terão levado o Executivo Municipal da época a atribuir o nome de
Sérgio Conceição ao Municipal de Taveiro.
Sérgio Conceição nasceu no concelho de Coimbra
e fez parte da sua formação na Académica, clube que representou, apenas nas
camadas jovens, entre 1986-87 e 1990-91. Com 17 anos (1991) transferiu-se para
o F.C. Porto e até terminar a sua carreira, dezoito anos mais tarde, nunca mais
voltou a vestir a camisola da Académica. Recentemente, final da época de 2012-13 e época de 2013-14, foi treinador da Académica.
Em contrapartida, se revisitarmos a história do
futebol da Académica encontramos muitas personalidades (dirigentes,
treinadores, jogadores) que foram figuras de referência na instituição e contribuíram
para o seu prestígio e engrandecimento.
Dos jogadores, permito-me destacar sete, cujo
curriculum, como cidadãos e futebolistas da Académica, deveria ter sido, obrigatoriamente,
ponderado e valorizado pelo então Presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
António
Bentes - 15 épocas consecutivas na Académica (retirou-se em
1959), 328 jogos,167 golos (melhor marcador de sempre da história Académica), 5
vezes internacional, 3 pela Seleção A. Professor Primário. Faleceu em 6
de Fevereiro de 2003 com 75 anos.
Mário Wilson - 12 épocas consecutivas (retirou-se em 1963), 281 jogos,17 golos,207 vezes capitão de equipa, 2 vezes internacional pela Seleção B. Treinador da Académica durante 7 épocas, tendo orientado a equipa em 237 jogos.
Mário Torres - 16 épocas consecutivas (retirou-se em 1966), 373 jogos, 32 golos,102 vezes capitão de equipa, 7 vezes internacional, 5 pela Seleção A. Treinador uma época. Médico Obstetra.
Mário Wilson - 12 épocas consecutivas (retirou-se em 1963), 281 jogos,17 golos,207 vezes capitão de equipa, 2 vezes internacional pela Seleção B. Treinador da Académica durante 7 épocas, tendo orientado a equipa em 237 jogos.
Mário Torres - 16 épocas consecutivas (retirou-se em 1966), 373 jogos, 32 golos,102 vezes capitão de equipa, 7 vezes internacional, 5 pela Seleção A. Treinador uma época. Médico Obstetra.
João
Maló
- 11 épocas consecutivas (retirou-se em 1969), 150 jogos, 6 vezes internacional, uma pela Seleção B. Treinador uma época. Médico, Professor
Universitário.
Augusto
Rocha - 15 épocas consecutivas (retirou-se em 1971), 373 jogos, 59
golos,120 vezes capitão de equipa,19 vezes internacional, 7 pela Seleção
A.
Vítor Campos - 13 épocas consecutivas (retirou-se em 1976), 345 jogos, 33 golos, 2 vezes internacional, uma pela Seleção A. Médico Anestesista.
Vítor Campos - 13 épocas consecutivas (retirou-se em 1976), 345 jogos, 33 golos, 2 vezes internacional, uma pela Seleção A. Médico Anestesista.
Vasco Gervásio - 17 épocas consecutivas (retirou-se em 1979), 430 jogos, 50 golos, 284 vezes capitão de equipa, 7 vezes internacional, uma pela seleção B. Treinador uma época. Seis anos Vice-Presidente da Direção. Licenciado em Direito. Faleceu em 3 de Julho de 2009.
A atribuição do nome de Sérgio Conceição ao Municipal de Taveiro não terá sido, seguramente, pelo contributo desportivo que este deu à Académica, já que a representou, apenas, nos escalões de formação ou por serviços relevantes prestados à cidade, dos quais ninguém tem conhecimento.
Então o que se terá passado? Rebobinemos o
filme da história.
Dia 17 de Novembro de 2002, o Estádio Sérgio
Conceição, completamente cheio, é inaugurado com o jogo Académica-Vitoria de
Setúbal, correspondente à 11ª jornada da Super-Liga da época de 2002-03.
Nove anos mais tarde, 23 de Abril de 2012, pode
ler-se no “Mais Futebol” a seguinte declaração de Sérgio Conceição: “Quando foi inaugurado o estádio com o meu nome,
em Taveiro a 10 km de Coimbra, que não é meu, tem apenas o meu nome, comprei
toda a bilheteira. Foram 60.000 euros que ofereci à Académica.”
Terá sido esta a razão? Terá sido uma forma
pioneira de “naming rights” que justificou a atribuição do nome do Estádio?
Jorge Humberto, hoje
médico pediatra, foi um poderoso avançado que jogou 6 épocas na Académica
(retirou-se em 1966), fez 100 jogos, marcou 34 golos, foi uma vez internacional pela Seleção B e uma época treinador. No verão de 1961 protagonizou a primeira
grande transferência de um futebolista português para o estrangeiro. Em
consequência da transferência para o Inter de Milão ofereceu à Académica, sem que a
isso fosse obrigado ou algo recebesse em troca, 1000 contos,valor que actualizado à inflação seria, hoje, cerca de 450.000 euros.
Quaisquer destes ex-jogadores ou, então, dirigentes históricos como João Moreno, Jorge Anjinho ou Paulo Cardoso, não deveriam ter sido homenageados atribuindo o seu nome ao Estádio Municipal de Taveiro?
A cidade, através da sua Assembleia Municipal, ainda, está a tempo de reparar este erro!
Quaisquer destes ex-jogadores ou, então, dirigentes históricos como João Moreno, Jorge Anjinho ou Paulo Cardoso, não deveriam ter sido homenageados atribuindo o seu nome ao Estádio Municipal de Taveiro?
A cidade, através da sua Assembleia Municipal, ainda, está a tempo de reparar este erro!
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