A actual direção da AAC/OAF iniciou funções há nove meses, tendo pela frente um cenário desportivo e financeiro que se antevia
muito complicado. A Académica tinha descido à 2ª liga, previa-se uma quebra
muito significativa das receitas anuais e, alegadamente, a Direção terá encontrado os
cofres vazios e um conjunto de compromissos para satisfazer a curto prazo.
Louve-se, por isso, a coragem de quem, neste
contexto, assumiu responsabilidades directivas.
Todavia, nenhum sócio responsável e minimamente
atento à vida da Académica ignoraria este cenário e muito menos quem se
dispôs a concorrer ao acto eleitoral.
Destes era suposto que tivessem uma
percepção, ainda que aproximada, da situação que iriam encontrar e que tivessem
equacionado um plano de contingência para lhe fazer face.
Destes esperava-se, também, que ao fim de nove
meses já tivessem solicitado uma auditoria externa às contas para que os sócios
soubessem a verdadeira situação em que encontraram a instituição quando tomaram
posse.
Não é sério que ao fim deste tempo se continue
a justificar tudo pelos erros do passado sem assumir, também, responsabilidades
próprias, quanto mais não seja por inexperiência ou displicência.
1 – Um plano de reestruturação, visando a
redução da despesa não existe ou, pelo menos, nunca foi divulgado. São do
conhecimento público, apenas, as rescisões contratuais com jogadores efectuadas
no início da época, que, diga-se em abono da verdade, contribuíram para a
redução da massa salarial da equipa profissional e o empréstimo em Janeiro de
dois atletas (Fernando Alexandre e Tozé Marreco).
O redimensionamento do quadro de funcionários,
indispensável em qualquer instituição que atravessa uma crise financeira, não
foi feito. Justifica-se que um clube como a Académica tenha cerca de 30
funcionários (não incluindo jogadores e técnicos) que correspondem a um encargo
mensal de, pelo menos, 50.000 euros?
2 – O aumento de receitas resumiu - se a medidas
pontuais: venda de património e dos direitos desportivos de um jogador. E agora?
A que medidas irão recorrer porque o património vendável ter-se-á esgotado e
jogadores susceptíveis de proporcionarem um retorno financeiro a curto prazo
não se vislumbram?
3 – No capítulo das receitas importa, ainda,
recordar algumas verbas já recebidas ou a receber pela Académica.
As vendas do edifício dos Arcos do
Jardim e do jogador Pedro Nuno terão rendido cerca de 900.000
euros, aproximadamente 610.000 do imóvel porque existiria uma hipoteca de 90.000 euros
e entre 250.000 e 300.000 correspondentes a 75% do passe do atleta.
A estes 900.000 euros devem somar-se 500.000
dos direitos televisivos referentes à presente época desportiva, 120.000 provenientes do Fundo de Solidariedade da UEFA e outros proveitos (divida da Câmara Municipal, patrocínios, nomeadamente, nas camisolas, receitas
das apostas desportivas, apostas online e Placard, rendas das lojas do estádio e pavilhão
e renda do bingo, etc.), valores mais difíceis de quantificar para um observador
externo, mas que estimamos em cerca de 450.000 euros.
Em resumo, esta época terão entrado, ou virão a
entrar, nos cofres da Académica cerca dois milhões de euros.
4 – Face a estes números, que desmistificam
algumas meias verdades postas a circular, são pertinentes algumas perguntas que
acabam por se transformar, em virtude dos recentes resultados desportivos, em
verdadeiros gritos de revolta!
Teria sido necessário emprestar o Fernando
Alexandre, que era um elemento preponderante para atacar a subida?
Não teria havido margem financeira para ter reforçado a equipa em Janeiro com dois ou três jogadores para lugares onde as
carências são confrangedoras?
Porque é que atiraram precocemente “a toalha
ao chão”?
Não fazia parte dos planos da Direção a subida
de divisão?
5 – A Direção e o seu Presidente deviam saber (será
que não sabem?) que a única maneira de alcançar, a curto prazo, alguma estabilidade financeira passa por recuperar as receitas perdidas com a despromoção à 2ª liga, estimadas em cerca de 3 a 4 milhões de euros. De igual modo, deviam ter consciência que quanto mais tempo durar a permanência na 2ª liga maiores serão as dificuldades, nomeadamente na captação de recursos financeiros.
É, pois, pertinente perguntar: como vai ser o
futuro a curto prazo? Onde vão desencantar o dinheiro?
Na verdade, o regresso na presente época à 1ª liga
e o consequente retorno financeiro que daí resultaria, parece ter-se
transformado, em virtude dos recentes resultados desportivos, numa miragem.
Os activos imobiliários ou outros transformáveis
em fontes de financiamento terão acabado.
Mecenas não se encontram. Investidores para uma
SDUQ é coisa que não existe.
Empréstimos bancários sem garantias pessoais
sólidas não encontram receptividade nas instituições financeiras.
Finalmente, o insucesso da recente operação
designada por Missão Briosa ilustra o impacto que este tipo de iniciativas tem nos
sócios e adeptos e a indiferença do tecido empresarial da região perante os
problemas financeiros da Académica.
Por isso, Senhor Presidente, desculpe a minha
insistência: onde vai encontrar financiamento para construir uma equipa para
atacar a subida de divisão na próxima época?
Vá lá, desvende o tabu? Ou, então, não existe
nenhum tabu (será mesmo que não há?) e ficaremos, tranquilamente, à espera que um dia possa ocorrer um
novo milagre da multiplicação. Primeiro foi o da multiplicação dos pães, depois dos peixes e agora
será o dos euros?
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