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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

NÓS (Académica) e a venda dos direitos televisivos à NOS



 
 
Nas últimas semanas a venda dos direitos televisivos dos jogos da primeira liga constituiu um dos temas que dominou as notícias sobre o futebol nacional.
Desde logo, porque os números divulgados para os anunciados contratos do Benfica, Porto e Sporting atingem valores astronómicos para o contexto económico português. No entanto, importa não tomar “a nuvem por Juno” porque estão, ainda, por clarificar os verdadeiros contornos de cada um desses contratos e os acordos laterais (cedência dos direitos de exploração e distribuição de canais dos próprios clubes, publicidade nas camisolas e nos estádios) que lhes estão associados.
Depois, porque estes acordos pulverizaram o grande objectivo dos três últimos Presidentes da Liga e da grande maioria dos clubes: negociar de forma centralizada os direitos de transmissão televisiva dos jogos das competições profissionais de futebol.
É inquestionável que a centralização dos direitos televisivos possibilita uma distribuição mais equitativa do dinheiro gerado pelas transmissões, o que permite minorar as assimetrias entre clubes grandes e mais pequenos, aumentar a competitividade entre eles e, consequentemente, alavancar o crescimento das Ligas.
A título de exemplo veja-se o que se passa na Liga inglesa cujo modelo de repartição das receitas televisivas é o mais equilibrado das principais ligas europeias.
Basicamente 50% do valor total gerado pela venda dos direitos televisivos é dividido em partes iguais por todos os clubes, 25% são distribuídos proporcionalmente em função dos resultados desportivos e os restantes 25% repartidos em função do número jogos transmitidos.
Só assim é possível explicar que o Liverpool, o clube que mais recebeu na temporada 2013/14, tenha tido uma receita televisiva de 130 milhões de euros que foi, apenas 1,6 vezes maior do que a do último classificado, o Cardiff City, que recebeu 80 milhões.
Atente-se que o valor facturado pelo despromovido Cardiff foi superior quer ao recebido pelo Atlético de Madrid, Bayern e PSG, equipas que foram campeãs nos respectivos países, quer por qualquer outro clube europeu não pertencente à Premier League, com excepção do Real Madrid e Barcelona e dos três principais clubes italianos (Juventus, Milan e Inter).
Por outro lado, importa, também, assinalar que o novo contrato que entrou em vigor em Janeiro de 2016 vai permitir aos 20 clubes da primeira liga inglesa encaixarem 6,9 mil milhões de euros pela transmissão dos jogos durante três épocas. Ou seja, um aumento de 70% em relação ao valor que, atualmente, recebem, o que tornará não só os grandes clubes ingleses mais ricos, mas, também, os de menor dimensão ricos, o que demonstra a importância de os direitos televisivos serem negociados por uma única entidade, neste caso a Liga inglesa que centraliza o negócio com as operadoras.
As Ligas portuguesa e espanholas eram, até agora, as únicas ligas europeias em que a negociação dos direitos televisivos não estava centralizada. A partir da época de 2016-17 apenas em Portugal a negociação continuará individualizada, já que a própria Espanha, por interferência governamental, passará a adoptar o modelo centralizado.
Em Portugal, face aos contratos anunciados pelo Benfica, Porto e Sporting, apenas se ouviu a voz do Presidente do Gil Vicente que afirmou: É inadmissível que os clubes grandes recebam milhões e os pequenos migalhas. Os pequenos e médios clubes têm uma grande força no futebol, detém a maioria nas assembleias gerais da Liga de Clubes e são eles que até podem fazer parar os campeonatos”.
De nada valeram estas declarações (oportunas, adequadas e assertivas) porque para dissipar quaisquer dúvidas e enterrar, pelo menos, durante os próximos dez anos, a negociação centralizada, na quarta-feira, 30 de Dezembro, a NOS, operadora envolvida nos negócios com o Benfica e Sporting, comunicou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que tinha chegado a acordo com mais oito clubes da primeira liga (Académica, Belenenses, Nacional, Arouca, P. Ferreira, Marítimo, Braga e V. Setúbal) para a assinatura de contratos de transmissão televisiva dos jogos caseiros.
Curiosamente e contrariamente ao que aconteceu com o Benfica e o Sporting, nem a operadora nem nenhum destes oito clubes divulgaram os montantes envolvidos nestes acordos.
No que se refere à Académica os sócios têm o direito de ser informados sobre os montantes e as condições do acordo que foi celebrado com a NOS. É um assunto demasiadamente importante para o futuro da instituição para ficar confinado aos corredores da direção.
Ou será que o silencio significa que o acordo não foi assim tão bom? Ou que a diferença em relação a outros clubes, nomeadamente o Braga, se acentuou escandalosamente?
O Presidente do Braga já declarou que assinou um contrato por dez anos que, segundo o jornal Record, renderá 100 milhões de euros, isto é 10 milhões por época. Por aí diz-se que o acordo assinado pela Académica se cifra em 3 milhões de euros por época! 
A serem verdade estes números a Académica irá receber anualmente, apenas, 30% do valor que será pago ao Braga! Será possível?          

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